Te convido:

Vida, profissão, religião, gostos, desgostos...

Caminhada como ensinante e aprendente.

Queres partilhar? Vem junto!!

Críticas, Perguntas, Respostas, Dúvidas...

Esperançar sempre!!



quarta-feira, 17 de março de 2010

ENSINANDO E APRENDENDO: “GERUNDIANDO” NA BUSCA   COLETIVA DA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO

Leila de Almeida Castillo Iabel*

Resumo: o artigo Ensinando e Aprendendo: “gerundiando” na busca coletiva da construção do conhecimento  apresenta questionamento sobre a qualidade do trabalho nas relações pedagógicas. O profissionalismo, o compromisso com as vidas que se recebe diariamente, que têm nessa relação o exemplo como parte de sua formação, nos apresenta uma conceituação de termos novos para o vocabulário e a prática pedagógica. A escolha docente sempre nos remeterá ao comprometimento com o peso da vivência sociopolítica e cultural de cada um.

Palavras-chave: Ensinante. Aprendente. Construção do conhecimento.

COMPARTILHANDO CONCEITOS
ENSINANTE: nome dado ao profissional que, em situação de rotina escolar, estabelece uma relação de aprendência com os envolvidos. É o facilitador, mediador e por vezes, provocador da construção do conhecimento. Constrói coletivamente as normas de bem viver para que  essa construção de novos saberes, realmente se dê de forma significativa.

APRENDENTE: nome dado a quem, em situação de rotina escolar, busca coletiva e individualmente, a construção do conhecimento. Estabelece novas situações de  aprendizagens, mesmo que essas tenham que ser provocadas, mediadas ou facilitadas.
Professor, professa todo o seu saber; aluno sem luz, busca a luz do saber do professor. Quanta soberba!

Diferença entre professor e ensinante: o professor² não se coloca em situação, também, de aprendizagem. Preestabelece o que será ensinado e não se apresenta aberto à proposição do aluno. O ensinante busca no saber do aprendente as formas de alavancar a construção de novos saberes. Propõe e estabelece as normas desse processo, construindo-as no grupo e com o grupo, dando-lhes autonomia de partícipes.

Diferença entre aluno e aprendente: o aluno³ não sabe nada, passa a saber depois que o professor lhe ensinar algo, mas, se ele não se colocar em situação de respeito e escuta, não vai aprender. O aprendente, por sua vez, participa do processo com o ensinante, estabelece trocas, busca alternativas e, num exercício de calar e ouvir, percebe os momentos e os utiliza para possibilitar a construção do conhecimento.

Têm-se visto muitas práticas pedagógicas em que alguns se mostram mais ensinantes que professores ou vice-versa. A grande dificuldade está em articular o que se  faz com o que se pensa. Organizar o “conflito cognitivo”¹ criado quando a realidade contradiz a teoria, reverter a situação e praticar a teoria.
Os professores não conseguem romper os laços com a formação autoritária, militarista, ditatorial a que foram submetidos, e por mais que resistam, numa situação extrema, lançam mão de recursos arbitrários e violentos como: mexer na nota do aluno . Decididamente não fomos educados a dizer os porquês das coisas. Não nos acostumamos a discutir as tomadas de decisões, elas já vinham prontas. Hoje, deparamo-nos com o seguinte problema: não sabemos provocar a argumentação, desencadear um debate em sala de aula, conduzir uma discussão para que dela se construa conhecimento. Nossos aprendentes, por receberem tudo pronto, “de mão beijada” não sabem como reivindicar, ou o porquê de fazê-lo, não sabem argumentar, ou por que fazê-lo, pelo contrário, calam, não estabelecem o diálogo e, se contrariados, usam da violência, da agressão verbal. Vejam o quadro alarmante, mas ao mesmo tempo desafiador que se apresenta.

E o papel do EDUCADOR, o ENSINANTE? De que forma podemos relacionar a formação que recebemos com as crianças e jovens de hoje ? Que leituras estamos fazendo para acompanhar essa rapidez de mundo a que estamos submetidos? Que cursos, palestras, seminários temos feito para nos mantermos atualizados e em sintonia com a globalização, com os multimeios? Que técnicas e recursos temos trazido para provocar o interesse em nossas aulas? Que alternativas temos para atender os que não estão no ritmo da maioria, será que os percebemos? E como os percebemos?

Caro colega, a questão aqui não é saber o que se fez ou se deixou de fazer, mas buscar juntos, caminhos a seguir, para dar conta de tantos apelos que o mundo da educação nos tem feito, e com certeza, ainda fará. Temos que agir. Sair da inércia, deixar de nos desculpar, de culpar o sistema, o governo, a sociedade, a família, a LDB e Estatuto da Criança e do Adolescente.
Somos EDUCADORES? PROFESSORES? ENSINANTES? Mãos à obra!
Acomodar, incomodar, desacomodar, …,
…, mudar, transformar, ressignificar!
O que quero questionar é a qualidade do trabalho que estamos fazendo. O nosso profissionalismo. O nosso compromisso com as vidas que recebemos diariamente e que  receberão nosso exemplo, como parte de formação das suas vidas.
Que valores temos? São coerentes com a proposta da escola em que trabalhamos? Eu acredito nessa proposta? Se acredito, busco vivenciá-la, torná-la concreta? Se não acredito, discuto com meus colegas para possibilitar a mudança? Aproprio-me e estudo para discutir com embasamento teórico, a fim de qualificar o debate? Tenho coragem de dizer que não concordo e procuro outra escola que vá ao encontro dos meus princípios de vida, onde eu possa ser coerente com meus valores? Ou mesmo, assumo o compromisso de problematizar, de provocar meus colegas no sentido de indagarmos nossa prática?
Para sermos fazedores de uma prática pedagógica de sucesso necessitamos uns dos outros. O compromisso profissional também passa pela coletividade, uma vez que são muitas pessoas envolvidas no processo de ensinância e aprendência.

Ser EDUCADOR, PROFESSOR, ENSINANTE, pode não ser um sacerdócio, uma vocação, um dom, mas com certeza é uma opção. A escolha feita sempre nos remeterá ao comprometimento com o peso da bagagem sociopolítica e cultural de cada um.

OBRAS CONSULTADAS:

ABRAHÃO, Maria Helena M.B. (org.); ECKHARDT, Carmen Avani et al. Avaliação e erro construtivo libertador: uma teoria-prática includente em educação. 2.ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004.
ANTUNES, Celso. Trabalhando Habilidades, Construindo Idéias. São Paulo: Scipione, 2001.
______. Glossário para educadores(as).3.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.
AQUINO, Julio Groppa (org.). Diferença e Preconceito na Escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1998.
CUNHA, Marcus Vinícius da. John Dewey: uma filosofia para educadores em sala de aula. 2.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998.
DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir. 9.ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: MEC:UNESCO, 2004.
ELIAS, Marisa Del Cioppo. Célestin Freinet: uma pedagogia de atividade e cooperação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. 29.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. 24.ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
______. À Sombra Desta Mangueira. 5.ed. São Paulo: Olho D’água, 2003.
FULLAN, Michael. A Escola como organização aprendente: buscando uma educação de qualidade. 2.ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.
GADOTTI, Moacir. Escola Cidadã. 10.ed. São Paulo: Cortez, 2004.
______. História das Idéias Pedagógicas. 8.ed. São Paulo: Ática, 2005.
GARCIA, Regina Leite (org.); CASTILHO, Angel V. Jacyan et al. O corpo que fala dentro e fora da Escola. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.
GENTILI, Pablo. Pedagogia da Exclusão. 4.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.
GOHN, Maria da Glória. Movimentos Sociais e Educação. 2.ed. São Paulo: Cortez, 1994.
LÜCK, Heloísa; CARNEIRO, Dorothy Gomes. Desenvolvimento Afetivo na Escola: promoção, medida e avaliação. 2.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1985.
MEDINA, Antônia da Silva. Supervisão Escolar: da ação exercida à ação repensada. 2.ed. Porto Alegre: AGE, 2002.
REGO, Teresa Cristina. 16.ed. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.
TARDELI, O respeito na sala de aula. 2.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.
WADSORTH, Barry J. Inteligência e afetividade da criança na teoria de Piaget. 5.ed. São Paulo: Pioneira Thomson, 2003.

* Licenciada em Educação Física -
UFRGS/Porto Alegre, 2001. CREF 113- G/RS;
Especialização em Gestão e Supervisão Educacional - FACOS/Osório, 2005-2006;
Supervisora na E.E.E.M. Raul Pilla

NOTAS
1-Expressão utilizada por Piaget na teoria do desenvolvimento cognitivo quando se dá a formação de um conceito a partir da acomodação, assimilação e adaptação.
2-Uso professor por compreender que se trata de um profissional que não consegue romper os laços com sua formação remota de estudante que pouco ressignifica sua prática.
3-Uso aluno, pois se o indivíduo é vítima de violência, esta só pode ter vindo do professor e este só pode tratá-lo como aluno, caso contrário não teria sido arbitrário a autoritário.
Espaço Inovação - Revista Pedagógica - Ano 3 - no 5, dezembro, 2 0 0 6 - páginas 25 e 26.

Nenhum comentário: